Temer assume a presidência do Brasil. Lavada de Dória em São Paulo. Crivella ganha no Rio. Trump é o 45º Presidente dos Estados Unidos. O conservadorismo chutou o balde e está voltando pela porta da frente. Para pessoas como eu – artista, ideologista, sonhador que sempre lutou por um mundo mais distribuído – rola aqui um “tilt” nas ideias. Soa ilógico, um retrocesso… A partir disso, uma febre de “Pai nos proteja”, “é o fim”, “acabou o mundo”, “O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM AS PESSOAS?” (sempre em letras garrafais) tomam as timelines das redes sociais. Completamente plausível. Nada útil (ao meu ver), mas plausível.
Seriam estas situações um apelo reverso à representatividade? Mas quem seria capaz de nos dias de hoje ser contra a todos os ganhos sociais?! O que esta massacrante maioria está querendo? Porque estas pessoas, as mesmas que anos antes votaram por mais liberdade, mais assistencialismo e sonharam com um mundo de fronteiras abertas estão mudando de ideia? Massa de manobra?
Acho muito curiosa essa onda conservadora explodir ao mesmo tempo aqui, nos EUA, em Londres e em outros lugares do mundo e não podemos fechar os olhos para o que está acontecendo. Não dá mais pra ficar na bolha das nossas ideologias. Tem cheiro de enxofre, mas tem algum outro elemento aí nesta mistura que ainda não foi percebido e precisamos urgentemente reconhecer. Parar de subjugar os fatos e DE FATO compreende-los. Gerar empatia pelo “diabo”.
A nível de evolução, retrocesso não existe. A girafa não vai diminuir seu pescoço. O cachorro doméstico não será mais um bicho selvagem. A tecnologia não vai diminuir. As pessoas não vão mais morar em cavernas. As pessoas já estão SIM mais tolerantes às diferenças. Não é possível desaprender a escrever, a falar, a andar de bicicleta… Se algo for perdido, é porque não foi de fato absorvido. E isso é ruim?!
Fomos entorpecidos com placebo por muito tempo. E não há um juízo ideológico aqui. É fato: tudo farinha do mesmo saco. Conservadores e Socialistas vivem flertando. Veja o exemplo de Trump: o cara foi democrata (1987), depois republicano (de 1987 a 1999), depois membro de um tal “Partido da Reforma” que eu nem sabia que existia (de 1999 a 2001), voltou a ser democrata (de 2001 a 2009) e depois virou republicano de novo. E aqui no Brasil? Tachamos que “o principal partido de direita” é o chamado “PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA”. E por aí vai! Podemos listar um monte de incongruências.
Progresso é uma palavra linda, mas seu motivador é a mudança. E a mudança tem seus inimigos. Não seria este movimento uma aversão a algo ruim que não estamos enxergando? Me vem à cabeça a imagem de uma pessoa doente: o sinal de que ela está em processo de cura é o ápice da enfermidade. Se o mundo está a 40º de febre, então é sinal de que ainda temos anticorpos para continuar a luta. E esse é o lado bom disso tudo!
Nenhuma transição é fácil. É óbvio que a repressão será forte. Para mudar não há meio termo, é briga de peixe grande. Dá medo, mas é passageiro. Tenho muita fé nisso. Por aqui, nada mais me representa a não ser a ideologia comum de ser uma boa pessoa, de fazer a diferença, co-criar com outras pessoas boas e colaborar com o avanço do mundo.
A reforma ética precisa vir antes da reforma política. Temos que ser exemplo uns para os outros, ao invés de ficar diminuindo aqueles que pensam diferente. Já pensou a frustração de lá na frente descobrirmos que o que imaginávamos não condizia com a verdade?
Sim, existe uma verdade. Ela não é minha, nem sua, nem de um lado, nem de um partido, nem de uma religião… É uma verdade que estamos beeeeeeeeeem longe de compreender. Já que não temos capacidade de compreende-la ainda, o melhor a fazer é tentar ser uma pessoa boa mesmo (o que já é um árduo trabalho).